Nas
crianças se chama quebranto, é um esmorecimento geral, um
langor, uma quebreira da vontade que toma conta do corpo. Pode dar
em qualquer pessoa. Tem sido atribuído à força do olhar
de invejosos ou mal-intencionados. Acontece também que algumas
pessoas isentas de inveja tem olhar forte, condição desconhecida as
vezes até do próprio dono do olhar.
Na
sociedade primitiva, o invejoso, outro tipo de pessoa de olhar
forte, é sempre rejeitado, porque influi no ânimo das pessoas.
E fácil conhecer quando acontece o mau olhado. Se ao olharem
para nós começarmos a espirrar, ou abrirmos a boca em longos
bocejos, sem parar, é sinal de que fomos atingidos.
Não
é de hoje que se temem os seus efeitos. Demócrito mencionava
já entre os mediterrâneos essa crença, da qual não
conseguira determinar as origens. Aristóteles comentava que o olhar
de algumas pessoas podia causar perturbação funesta no corpo
e na mente dos fascinados. A história de Medusa, cujo olhar
petrificava as pessoas é uma história de mau-olhado.
Os
povos antigos conheciam a figa, símbolo sexual e amuleto, para
afastá-lo. Entre nós, usa-se a figa feita de duas plantas
mágicas: de arruda e de guiné para o mesmo fim.
O
mau olhado é força mais branda do que o feitiço e na
maioria das vezes não é premeditado. Contra ele, além da figa e
da fava-da-inveja que se colocam no pulso ou no pescoçinho das
crianças, usam-se as plantas mágicas: a arruda, a guiné,
comigo-ninguém-pode e outras; fazem-se os ensalmos e cumprem-se
os rituais das simpatias.
A
crença no mau-olhado é universal. A língua dos povos
atesta a sua difusão e persistência. E o mal-occhio, o evil
eye, o mal de ojo. Entre nós é chamado além de mau-olhado, olho
de seca-pimenteira, olho-grande, olho de inveja, olho-mau, maus-olhos.
No
IX livro das Noites Áticas, Aulo Gélio conta que as pessoas
da Ilíria podiam matar, estando irritadas, apenas olhando
fixamente para o adversário. (In Dicionário de Folclore
Brasileiro, de Luís da Câmara Cascudo).
A
mágica de proteção contra o mau-olhado na antiga
Grécia era desenhar ou gravar olhos nos objetos, para defender
das forças invisíveis do mal. Talvez reminiscência da maga
Medusa, uma das Górgonas, de olhos tenebrosos e cujo olhar
fazia se transformarem em pedra as pessoas que os fitavam.
Os amuletos mais populares contra o mau-olhado são:
a
figa, o corno, a mão cornuda, a meia lua, o corcunda, o
elefante. Usa-se também uma fitinha vermelha, amarrada no pulso
o ou em torno do pescoço.
A
figa é o mais usado e o mais antigo dos amuletos contra o
mau-olhado. Sobrevive nos usos dos povos os mais diversos.
Sabe-se que já existia entre os etruscos. E mencionada por
Dante, por Shakespeare. Entre os povos da antigüidade, como
símbolo fálico, prendia-se aos cultos da fertilidade e da
fecundidade. Em Roma era usada no pescoço das mulheres e das
crianças, o que provocou o desaprovador reparo de Varrão, de
que a figa é a representação do ato sexual, sendo polegar em
riste apertado entre o indicador e o médio dobrados, o órgão
masculino penetrando o órgão feminino.
Encontraram-se
inúmeras figas nas ruínas de Herculano e de Pompéia.
Hoje ela vive um pouco nos folclores de toda a Europa de onde passou
para as Américas.
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