O ano de 1307 viu o começo da perseguição aos Cavaleiros. Apesar de possuir um exército com cerca de 20 mil homens, Jacques Demolay havia ido a França para o funeral de uma Princesa da casa Real Francesa e havia levado consigo poucos homens, sendo esses todos nobres. Na madrugada de 13 de outubro (uma sexta-feira, de onde se originou a história de sexta-feira 13 ser um dia infame) Jacques DeMolay, juntamente a seus amigos, foram capturados e lançados nas masmorras pelo chefe real Guilherme de Nogaret.
A partir de então, todas as posses dos Templários foram sendo confiscadas pelo tesouro francês, enquanto os castelos, propriedades e armas fora da França foram anexados aos Cavaleiros Hospitalários. A partir de 1307, os Templários estavam oficialmente extintos, com aviso para serem capturados e julgados (e condenados) se forem vistos. Seria o fim da Ordem?
Com a Ordem desmoronando, os segredos iniciáticos guardados pelos Templários tiveram de cair na clandestinidade, sendo divididos de maneira mais ou menos caótica, de acordo com as oportunidades e possibilidades que cada grupo em cada país conseguiu encontrar
Os quatro caminhos mais conhecidos desta transmissão de conhecimentos foram:
1) A criação da Ordem dos “Cavaleiros de Cristo” em Portugal e suas ramificações na Espanha. Esta Ordem nos é muito importante porque dela surgirão a Escola de Sagre e, consequentemente, o “descobrimento” do Brasil pelo Grão Mestre Cabral, em 1500.
2) Havia um grupo de templários liderados por Pierre D´Aumont, sucessor não oficial de Jacques deMolay, que deu origem ao Rito da Estrita Observância, na Alemanha e Escandinávia, e mais tarde ainda daria origem ao Rito escocês Retificado a às Ordens Martinistas.
3) Na França, os cavaleiros passaram a ser liderados por Jean Mare Larmenius (este documento de transição está guardado no Mark Mason´s Hall, em Londres) e
4) Na Escócia, a fundação da Ordem Real da Escócia e da proteção aos Templários foragidos por meio das Guildas de Maçons e construtores escoceses, especialmente em Bath, Bristol e York. A rota escocesa está associada a Robert de Bruce (aquele do filme Coração Valente) e coloca a Família St. Clair e a Capela de Rosslyn como figuras centrais da Maçonaria Templária.
A Batalha de Bannockburn (23-24 de junho de 1314) foi travada entre forças da Inglaterra e da Escócia, resultando em vitória significativa para esta última, no âmbito das Guerras de Independência Escocesa. Todos os relatos e lendas contam que os escoceses haviam sido auxiliados por poderosos e treinados guerreiros, que mudaram o curso da batalha e os auxiliaram a derrotar as forças inglesas. Estes guerreiros possuíam a pele queimada de sol e longas barbas, em contraste gritante aos branquelos escoceces.
O exército inglês, de cerca de 25 000 homens, comandado por Eduardo II da Inglaterra, foi interceptado no vau de Bannockburn (riacho Bannock Burn, afluente do rio Forth) por um contingente escocês de cerca de 9000 soldados, sob o comando de Robert Bruce. Aos primeiros embates do dia 23, relativamente modestos, seguiu-se um grande confronto no dia seguinte. O resultado pode ser atribuído à desastrada disposição das forças inglesas, entre dois riachos e em solo pantanoso. Eduardo II retirou-se do campo e fugiu de volta à Inglaterra.
A vitória escocesa foi completa e, embora o reconhecimento inglês da independência da Escócia ainda tardasse mais de 10 anos (1328), ajudou Robert Bruce a restabelecer um Estado soberano escocês.
Depois de 1318, todos os grandes proprietários escoceses tiveram que decidir quais propriedades manteriam e jurar fidelidade ao rei apropriado – se quisessem ter suas terras escocesas, teriam que abandonar as propriedades na Inglaterra – ou o contrário. Nesse ano o Parlamento escocês passou um decreto segundo o qual se o rei morresse sem filhos, seu neto Robert Stewart seria seu sucessor – mas nasceu-lhe um outro filho, David II Bruce, em 1324.
A “Declaração de Arbroath” em 1320, reafirmação da independência da Escócia composta por seu chanceler Bernard de Linton, e uma missão a Avignon, persuadiram afinal o papa João XXII a reconhecê-lo como o rei da Escócia em 1322. A declaração é conhecida também como a primeira carta de direito de uma nação, tendo inspirado a Revolução Francesa (guarde bem esta correlação, ela aparecerá mais vezes!).
Pierre D´Aumont
A história francesa associada com as Terras altas e Aberdeen, que retrata a fundação da abadia de St. George, conta que o Grão mestre Templário de auvergne, Pierre D´Aumont, fugiu para a escócia em 1307, acompanhado por 2 comandantes e 5 marechais de campo, atracando na Ilha de Mull, onde se disfarçaram de maçons operativos na Guilda de Mull.
Como o disfarce local dependia do fato de serem vistos como construtores, eles se denominaram “Maçons-livres” e adaptaram seus rituais templários para fazer uso simbólico das ferramentas de um ofício de maçom. Em outras partes da Europa, cavaleiros acabaram se mesclando aos lenhadores franceses e carvoeiros italianos, dando origem à mui respeitosa Ordem da Carbonária, onde os bons primos se reúnem.
Os templários ingleses se mudaram para Aberdeen em 1361, e dali a Guilda de “construtores” se espalhou pela Europa. Antes da perseguição francesa, os Templários já tinham grande contato com os artesões e construtores, que os acompanhavam em suas jornadas com a função de construir templos, barracos e fortalezas por onde se estabelecessem.
A correlação entre os monges guerreiros e os construtores de abadias já vinha de longa data. Como a perseguição católica se estendeu apenas para os guerreiros, deixando os construtores com a opção de continuarem seus trabalhos, uma maneira simples que os Templários encontraram foi a de, com a ajuda de seus antigos artesões serventes, mesclarem-se a estes novos “pedreiros-livres” (livres porque a partir de 1314 não estavam mais subordinados a nenhuma ordem militar/religiosa).
É importante frisar que, como o rei Inglês Edward II estava negociando com a Igreja por conta de seu casamento com Isabel (da França), ele foi obrigado a aceitar a bula papal que condenava os Templários, mas fez corpo mole por tempo suficiente para que os cavaleiros pudessem desaparecer no anonimato. Em 1309, uma comissão católica chegou à Londres e insistiu para que os Templários fossem presos, levando-os a julgamento. Existem documentos censurando os xerifes de York por terem deixado os templários “vagando por toda a área”
Nos séculos XII e XIII, a Ordem dos Templários ajudou os portugueses nas batalhas contra os muçulmanos, recebendo como recompensa extensos domínios e poder político. Os castelos, igrejas e povoados prosperaram sob a sua proteção. Em 1314, o papa Clemente V de origem francesa e Felipe IV de França, tentaram destruir completamente esta rica e poderosa ordem (assassínios, absorção de bens, atrocidades, que levariam Fernando Pessoa a afirmar a luta contínua contra a Tirania, a Ignorância e o Fanatismo, segundo ele, os três assassinos de Jacques de Molay, Grão Mestre da Ordem), tendo Dom Dinis logrado transferir para a Ordem de Cristo as propriedades e privilégios dos Templários.
A Ordem de Cristo foi assim criada em Portugal como Ordo Militiae Jesu Christo pela bula Ad ae exquibus de 15 de março de 1319 pelo papa João XXII, sendo rei D. Dinis, pouco depois da extinção da Ordem do Templo. Tratava-se de refundar a Ordem do Templo que anterior bula papal de Clemente V havia condenado à extinção.
Em Portugal, os bens dos Templários ficaram reservados por iniciativa do rei, transitando para a coroa entre 1309 e 1310, enquanto decorria o processo, não sem que o monarca rejeitasse o administrador nomeado por Clemente V – Estêvão de Lisboa. Esses mesmos bens passaram para a nova congregação em 26 de novembro de 1319, com exceção aos reis de Castela e Leão, Aragão e Portugal, que se juntaram para contrariar a execução da medida que ordenava a transferência para a Ordem Hospitalária.
A nova Ordem surgia, assim como uma reforma dos Templários “para Francês ver”. Tudo mudou, para ficar mais ou menos na mesma. O hábito era o mesmo, a insígnia também, com uma ligeira alteração, e os bens, transmitidos pelo monarca, correspondiam aos bens templários.
A tradição Francesa diz que Jacques deMolay, em 1313, ainda na prisão, estava determinado a continuar a Ordem de maneira secreta, e transferiu todo o seu poder e autoridade para Johannes Marcus Larmenius como sucessor.
Larmenius, quando ficou velho, redigiu uma carta de transmissão de poderes a Theobaldus e depois disso, cada Grão-Mestre anexou sua aceitação ao documento original, chegando até 1804 com o Grão mestre Bernard Raymond. Este documento decora a Sala do Conselho do Mark Mason´s Hall e está lá até os dias de hoje.
Continuaremos mais tarde, porque ainda estamos no século XIV e até chegarmos em 1717 falta um bom caminho, passando por Luteranos, Protestantes, Lollardos, Rosacruzes, Alquimistas, Renascentistas, Cientistas e Reformadores.
(Texto: Marcelo Del Debbio)
O LIVRO MUDO DA ALQUIMIA
O Livro Mudo da Alquimia é uma das mais relevantes e belas produções da tradição pictórica do hermetismo medievo. O livro consiste de uma série de figuras que ilustram, do princípio à sua realização, todo o trabalho alquímico.
Mutus Liber, como o nome diz, é um livro mudo, sem palavras, editado originalmente por Eugène Léon Canseliet (1899 - 1982), alquimista francês, autor de diversos livros de alquimia.
O autor permaneceu anônimo, o que ocorria frequentemente, para as pessoas não serem perseguidas por Roma nem verem as suas obras adicionadas ao Índex. Muitas utilizavam homônimos e jogos de palavras para enganar as autoridades.
O "Mutus Liber" é um livro composto por 15 gravuras reportando para o método da Grande Obra alquímica.
Não é verdade que este livro não tenha palavras pois, logo na primeira página aparecem referências codificadas à bíblia e, na folha 14, existe uma expressão latina conhecida dos alquimista: "Ora, lege, lege, lege, relege, labora et invienes" ou seja, "lê, lê, lê, re-lê, trabalha e encontrarás".
O fato por detrás do conceito aceite de que o livro é mudo deve-se, no entanto à total incompreensão dos seus sinais por parte dos leigos em alquimia. Na verdade, apenas os entendidos poderiam descortinar as revelações das gravuras.
Note-se que para além da impressão original datada do século XVII, muito poucas edições mais tardias tem efetivamente valor. Citando um mero exemplo, logo na primeira placa, na edição original, aparece entre roseiras emaranhadas uma paisagem campestre. Porém, em muitas edições posteriores, a paisagem que aparece foi modificada e observam-se agora cascatas.
Este simples pormenor transforma uma cópia de melhor qualidade e, mais agradável visualmente, numa obra totalmente apócrifa, pois, no mundo da alquimia, existem dois caminhos para alcançar o conhecimento.
O primeiro é o caminho seco e, o segundo, é o caminho úmido. Um destes caminhos é mais rápido e perigoso e o outro mais lento, mas mais seguro.
Assim deve ser visto o MUTUS LIBER. Uma complexa composição de imagem relatando por sinais apenas absorvíveis para os iniciados na matéria em que nada está representado por acaso.
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