MITOLOGIA INDÍGENA / FOLCLORE
As estórias nativas brasileiras estão repletas da simbologia animal, contos da onça, do jabuti, da anta, do macaco, do gavião, transformação de pessoas em animais e vice-versa. Os Borôro falam do dia em que as mulheres venceram os homens na pesca, e os transforma em porcos. Os Tembé contam a estória da festa dos animais e porque não vivem mais como homens. As tribos, por exemplo, dão diversas origens ao dono do fogo o Urubú-Rei (Tembé), a Onça (Kayapó) ou o Macaco (Borôro ) . Todas as estórias passam virtudes e ensinamentos. O papagaio ensina as crianças a não comerem de forma exagerada. Os índios do Amazonas riem com aventuras da onça, veado, raposa, jabuti, sapo, tamanduá, etc.
Descrevo abaixo uma dessas estórias extraída da Antologia do Folclore Brasileiro, dos índios Tembé:
Certa vez os animais promoveram uma festa que durou muitos dias. Todos os bichos foram convidados: veados, antas, porcos-do-mato, onças e aves de toda espécie. A Clareira já estava cheia e os convidados continuavam a chegar. Uiruuetê, ainda longe, tocava a sua corneta: bu bu bu. Ouvindo aquilo, os animais se regozijaram e disseram:
-O grande gavião também vem dançar conosco!
Mas o Grande Gavião ainda estava se preparando, se enfeitando para a festança. Também os macacos ainda não tinham chegado. Entre uma dança e outra, os animais convidaram o filho da onça para cantar. O velho jaguar tratou de ensinar-lhe como ele deveria fazer. Então o filho da onça cantou e cantou bem.
O velho jaguar também deveria cantar, mas a sua mulher, precavida, pediu-lhe que não cantasse coisas inconvenientes. Porém, ele não obedeceu e cantou:
- Você podia Ter cantado coisa mais bonita... Por que você ofendeu os convidados?
Quando a festa estava no fim, Arapuã-Tupana, o deus dos veados, foi cantar entre as mulheres. Mas ninguém podia contrariar o seu canto, pois todos que os escutam devem morrer. De repente ele bufou e desapareceu, passou junto de todos os convidados como um relâmpago e os convidados viveram para sempre como animais . No final da festa chegaram os macacos, atrasados como sempre, e não encontraram mais nada. Ficaram muito desgostosos e foram para as roças para roubar milho, para colher fruto das árvores e lá permaneceram.
Tudo isso aconteceu por causa do jaguar. Se ele não tivesse se comportado mal, os animais ainda viveriam como homens e poderiam cantar. Os Mehináku do Alto Xingu classificam os seres do mundo em várias categorias, em diversas versões do mito da Criação dão ao homem origem vegetal e animal. Eles dizem que o pajé pode se transformar em bichos. Alguns animais sobrenaturais são apresentados de forma bicéfala (duas cabeças num só corpo) como a Ulaikímpia, ave relacionada com a morte e o sustentáculo do céu.
Os Kamayurá falam de seres que moram na floresta e no ar que tem aparência de insetos, aves, animais e peixes.
Na mitologia dos índios brasileiros o mucura e o beija-flor fazem parte constantemente. O beija-flor é descrito como um passarinho de cheiro-doce. Segundo os Tukâno o mucura fez uma viagem até o céu, subindo por um chocalho. Roubou do sol o fogo celeste e o yagê (ayauasca ). Depois disso caiu do céu e com um chuá barulhento criou uma cachoeira. O beija-flor viajou pela água até uma ilha mágica. Ao chegar a ilha, roubou o fogo terrestre (brasas de uma fogueira) e o tabaco, ensinando o povo a fazer o charuto cerimonial.
O texto abaixo fala da Criação da Primeira Terra, foi extraído do livro A Fala Sagrada – Mitos e Cantos Sagrados dos Guaranis de P. Clastres:
A primeira a sujar o leito da terra foi a serpente originária; agora só existe sua imagem sobre a nossa terra. A verdadeira serpente mora no limite do firmamento de nossa terra.
Aquele que inicialmente cantou sobre o leito da terra de Nosso Pai Primeiro, aquele que foi o primeiro a fazer ouvir sua lamentação foi yrypa, a cigarra, a pequena cigarra vermelha. No limite do firmamento de Nosso Pai mora a cigarra originária : agora só subsiste sua imagem sobre o leito da terra.
Yamai o girino, é o senhor das águas, aquele que faz as águas. Aquele que existe sobre nossa terra não é mais verdadeiro; no limite do firmamento de nosso pai mora o verdadeiro. Agora só subsiste sua imagem sobre nossa terra.
Quando Nosso Pai fez a terra, por todos os lados estendia-se a floresta: savanas não existiam de modo algum. É porque, com vistas a abrir espaço das savanas, ele enviou tuku de grito agudo, o gafanhoto verde.
E, em todos os lugares onde ele plantava seu dardo, desabrochavam os espaços de relva: então somente se estenderam as savanas. E tuku celebrava-as com seu grito agudo. No limite do firmamento de Nosso Pai mora o verdadeiro tuku: agora só subsiste sua imagem.
Quando as savanas se deixaram ver, o primeiro a deixar ouvir o seu canto, o primeiro a mostrar seu contentamento, foi o inambu, a perdiz vermelha. Ela foi a primeira a fazer ouvir seu canto sobre as savanas, mora agora no limite do firmamento de Nosso Pai : a que vive sobre o leito da terra é somente a sua imagem. O primeiro a ferir o leito da terra de Nosso Pai foi o tatu. Ele não é o tatu verdadeiro, o que mora sobre nossa terra : ele é só a imagem. Senhora das trevas : a coruja E quanto ao Nosso Pai, o Sol, ele é o Senhor da Aurora.
Os Yanomami falam de; Shimiwe o espírito do macaco-aranha, Kaomawe; o espírito das tarântulas, Waroo o espírito serpente; espirito Pica-Pau, Espírito Jacaré, o espírito do porco-do-mato;espírito onça, espírito do urubu, que aparecem nos rituais com virola ( planta de poder inalada através de um tubo).Contam que foi um gambá, ligado a magia negra, o primeiro a utilizar o veneno que colocam em suas zarabatanas. Há também mito amazônico do boto que vai nas casas de mulheres, aproveitando a ausência de homens, transformando-se num rapaz, vestido de branco e com um poder irresistível de sedução, encanta as mulheres. Chamam crianças de paternidade desconhecida de filhos de boto. Ele também ataca para vingar roubo de namorada.
Existe um amuleto chamado muiraquitã, simbolizado por uma rã, o símbolo da fertilidade.
O Uirapuru é um deu que se transformou em pássaro, protetor dos negócios de do amor. Quando canta todos os pássaros fazem silêncio absoluto, para ouvi-lo cantar.
O Boiúna é uma cobra gigantesca que vive no fundo dos rios e igarapés. Seu corpo é brilhante, capaz de refletir o luar. De seus olhos emana uma poderosa luz, atraindo os pescadores para se alimentar.
O Anhangá pode assumir a forma de vários animais, é um espírito que vagea pela mata. A forma que mais gosta de aparecer é a de um veado com olhos de fogo. Ele é um protetor da vida na floresta.
Os índios Caiangangues, que habitavam as margens do rio Iguaçu, acreditavam que o mundo era governado por Mboi, um deus que tinha a forma de uma serpente e era filho de Tupã, o deus supremo.
A Mula Sem Cabeça tem um facho luminoso na ponta da cauda. Mata a coices quem a encontra. Quando está desencantada, transforma-se numa linda mulher.
O Boitatá é um boi que solta fogo pela boca, tocando fogo nos campos. É espírito de gente ruim que vagueia pela terra Há algum tempo vem-se falando no chupa-cabras, animal que chupa o sangue de bois e ovelhas, que vem fazendo parte do folclore brasileiro.
Eliade relata que os Iacutes afirmam que cada xamã tem uma Ave-de-Rapina-Mãe, que se assemelha a um grande pássaro, com bico de ferro, garras recurvadas e rabo comprido. Esse pássaro mítico só aparece duas vezes: no nascimento espiritual do xamã, e em sua morte; e fazem parte da iniciação, onde o iniciado tem a visão de seu corpo e suas entranhas sendo despedaçados, os ossos extraídos, e em seguida a ressurreição e a plenitude mística.
Alguns mitos siberianos dizem que o primeiro xamã tinha poderes extraordinários e seu corpo era formado por uma massa de serpentes. Dizem também que foi a águia a criadora do primeiro xamã. Às vezes o Ser Supremo era representado na forma de uma águia.
Concepções matriarcais no xamanismo apontam para a “A Grande Mãe dos Animais” que em certo momento ocupou a função de “Ser Supremo”. O animal protetor dos buriates chama-se khubilgan, que significa metamorfose. O que permite ao xamã transformar-se na forma animal.
Nas iniciações dos esquimós, o espírito que aparece na forma de um grande urso branco, devora o aspirante.
A mitologia indígena norte-americana é riquíssima na simbologia animal. De acordo com as tribos do sudoeste, a doença é devida à presença de substância maligna que, na maioria dos casos, é introduzida no corpo do doente por um espírito animal ofendido. Os índios americanos acreditam que os animais foram os primeiros a caminhar pela terra, e que cada um tem sua medicina específica para ajudar o homem. Uma das formas nativas para invocar o animal é adornar-se com penas e peles, pintando seus rostos para lembrar o animal e movimentando-se como eles. Americanos nativos imitando animais em dança ritual estabelecem elos com o reino do espírito. Crenças em reinos espirituais da vida e nas mais variedades de manifestações é universal. Freqüentemente muitas sociedades crêem que guias espirituais sempre usam animais ou imagens animais para comunicarem seus propósitos e regras aos humanos.
Um mito iroquês, sobre a origem das doenças e dos remédios, conta que antigamente os animais falavam e viviam em harmonia com os homens, mas os homens reproduziram-se tão depressa que os animais se viram forçados a morar nas florestas e em lugares desertos, e assim a amizade entre homens e animais foi sendo esquecida.
Quando os homens inventaram as armas e caçaram animais para alimentação e peles, a distancia entre as espécies aumentaram ainda mais. Os animais pensarão então em reagir e resolveu declarar guerra aos homens. Eles se reuniram em tribos, por espécie desde animais mamíferos, até aves, répteis, peixes e insetos. Cada uma dessas tribos decidiu causar algum tipo de doença aos homens, assombra-los nos sonhos, etc. Os seres plantas eram amigos dos homens e resolveram ajuda-los auxiliando-os na planta certa para cada tipo de enfermidade. E, assim nasceu a medicina.
As penas do Cachimbo Sagrado são as da Águia Dourada. Suas penas simbolizam o Sol Espiritual.
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