LIBERTANDO AS PALAVRAS
Nós pecisamos deixar fora nossas cabeças e abandonar nossa insistência em usar palavras com as lineares limitações características da comunicação adulta. No geral a conversa do adulto é estruturada por controles e para garantir que os outros possam entender corretamente.
As crianças são ensinadas que a linguagem pode ser usada sómente com outros seres humanos (e possivelmente em loja de animais de estimação), e não com árvores, binquedos, pássaros ou animais selvagens. Nós fomos ensinando-as a usarem palavras como os adultos usam.
Angeles Arrien, escritora do "Caminho Quadruplo', ed. Ágora* :
A forma que o visionário tem de conservar a autenticidade e permanecer dentro do Arco Sagrado é dizer a verdade sem acusar nem julgar. Dizer a Verdade é um valor universal que destrói os padrões de negação e indulgência.
Leslie Gray, que pertence à linhagem dos Oneida, Powattan e Seminole, e que une as disciplinas de Estudos de Etnias Nativas e psicologia afirma que, em certas culturas nativas, o falar a verdade é denominado " falar com a língua do espírito". Willian Scutaz, em " The Truth Option", nos diz que a comunicação da verdade contribui para o enriquecimento interpessoal. para nos apresentarmos em plenitude, uns frente aos outros, e para chegar às relações humanas mais satisfatórias, devemos ser conscientes e honestos.
Dizer a verdade, sem críticas ou julgamentos, é a capacidade de expressar as coisas como elas são. Podemos fazer sem abdicar de nossas idéias, refletindo maneiras de se expressar " com a língua e espírito.
A comunicação que se faz marcar pela integridade sempre leva em consideração o tempo e o contexto, antes de liberar o conteúdo. Muitas vêzes sabemos exatamente o que queremos dizer, mas não levamos em consideração se ´e o devido tempo ou o devido lugar para expressar o conteúdo da comunicação. A Comunicação direta - declarar o que vemos, sem culpar nem julgar - significa que devemos considerar o alinhamento entrre a escolha das palavras apropriadas, o tom da voz e a postura corporal.
Segue abaixo pensamentos extraídos de "Earth Medicine " de Kenneth Meadows:
Quando nós falamos com Nossas Relações somos levados a conhecer muitas linguagens. Essas variadas formas de comunicação ensina-nos a usar todas as nossas percepções. Nós podemos falar com uma Relação Humana. Nós também podemos escolher cantar ou uivar com as Nossas Relações Criaturas, ou apenas ouvir suas canções. Com nossas Relações Plantas, nós podemos tocar para sentir suas necessidades ou seus espíritos.
Nós podemos falar palavras que desconhecemos, uma linguagem desconhecida par passar nossos sentimentos ou pensamentos aos nossos ancestrais do Espírito do Mundo, e nós podemos usar a voz, cantar ou dançar nossas mensagens de Graças ao Criador. Cada forma de expressão que nós usamos é uma forma de dizer, ou comunicar numa linguagem que pertencemos.
Jamie Sams : Cada ciclo da vida é tem sua linguagem própria. A linguagem em que estamos todos juntos ligados é chamada Hail-oh-way-an, a Linguagem do Amor, na linguagem Sêneca. Quando nós abordamos qualquer criatura com amor e calma em nossos corações, elas sentem que não precisam correr. Quando nos sentamos em silencio, podemos ouvir as vozes dos Espíritos do vento que se movem através das árvores. Se nós ouvirmos com nossos corações, os Espíritos da Água cantam para nós, trazendo suas mensagens de conhecimento.Fale com as Relações, a Mãe do Clã do Primeiro Ciclo da Lua, ensina-nos como compreender todas as formas de comunicação presentes nos seres vivos do mundo natural.
Amor - Paz e Luz !
A CONSCIÊNCIA DAS PALAVRAS
Uma praga rogada verbalmente, segundo os magos, é mais do que simples desejo de prejudicar alguém, a palavra falada é o veículo que conduz e transfere o malefício à vítima. O som vocal, na verdade, é o mais antigo dos simbolos. Dele nasceram palavras, depois as sentenças e, por fim, as línguas faladas.
Existem diversas hipóteses para explicar como os sons nasceram e evoluiram. Segundo alguns estudiosos do assunto, eles teriam se iniciado com gritos de medo, gemidos de dor, urros de raiva. Depois foram acrescentados sons emitidos sons emitidos por certos animais e rruídos provocados por determinados objetos. Aos poucos, o acervo inicial foi enriquecido, qté que, pelo constante uso, os sons transformaram-se em palavras. Todavia, os primórdios de uma linguagem estruturada só ocorreram quando homens, por estar vivendo em comunidades, criaram instintivamente meios mais eficientes de se comunicar entre sí.
Com o aumento da população e de comunidades nômades, que viviam em zonas sempre mais distantes e mudavam de hábitos alimentares e costumes, os idiomas básicos também sofreram transformações e tornaram-se diferentes uns dos outros.
A Bíblia usa a lenda da Torre de Babel, para explicar o fenômeno da multiplicidade dos idiomas encontrados por todo o mundo. Segundo Gênese XI, versículos 1/9, antigamente todos falavam de forma semelhante :
"E era a Terra duma mesma língua, e duma mesma fala. E aconteceu que, partindo eles do Oriente, acharam um vale na Terra de Sinear, e habitaram ali.(...) E disseram : Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus, e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a Terra."
O Senhor então desceu para ver o que os homens estavam fazendo e, achando que não haveria "restrição para tudo" que eles intentassem fazer, "estabeleceu um meio para que não se entendessem entre sí : confundiu a língua. Assim o Senhor os espalhou sobre a face de toda a terra e cessaram de edificar a cidade. Por isso se chamou o seu nome de Babel, porquanto alí confundiu o Senhor a língua de toda a Terra (...)."
A lenda de Babel é bastante antiga e conhecida em diversas partes do mundo. Quando os conquistadores espanhóis chegaram ao México, por exemplo, eles descobriram a existência de uma torre semelhante a de Babel, mas com outro nome : chamava-se Pirâmide de Cholula.
E, para explicar a diversidade das línguas faladas em diferentes partes do mundo, o registro de Popul Vuh, dos maias, afirma :
" Aqui as línguas das tribos mudaram, sua fala ficou diferente. tudo que ouviam e compreendiam ao partir de Tulan, tornou-se difererente
Nossa língua era uma quando partimos de Tulan. Lá esquecemos nossa fala (...)."
Existe uma lenda chinesa que não difere muito das conhecidas no Ocidente. Já, segundo, os persas, Arimã, o espírito do mal, dividiu a lingua original em 30 diferentes idiomas, dos quais teriam surgido todas as línguas faladas.
As lendas greco-romanas também descrevem fatos semelhantes - só que, em vez de Arimã, foi Mercurio quem dividiu em diversos idiomas a língua falada.
Hoje, existem 2.796 línguas faladas e cerca de 8 mil dialetos. Curiosamente, em todo o mundo, as palavras e os nomes adquiriram, com o passar do tempo, conotações além das originais. de modo geral, os povos antigos acreditavam que, ao serem pronunciadas de maneira especial, as palavras tinham poderes sobrenaturais. Por isso como as doenças eram atribuídas a seres de outras dimensões, o sacerdote encarregado de curar um paciente procurava, em primeiro llugar, descobrir o nome do demônio responsável pelo mal. Então invocava-o nominalmente e o dominava. Mas havia uma recomendação : a invocação teria de ser feita enfáticamente, pois só assim teria um efeito semelhante ao de um ato físico.
Na Babilônia certos nomes eram considerados santos; por isso os sacerdotes amarravam os demônios cantando-os. Segundo Margaret Stutley, autora do livro Ancient Indian Magic e Folklore, foi esse ato mágico que deu nome à arte de "encantar". Os gregos transferiam a doença aos corvos dizendo ; "Vá para os corvos." Os sumerianos, por sua vez, matavam um cabrito branco - que em certos casos era substituido por um porco -, retiravam o coração do animal morto e, depois de colocá-lo na mão do paciente, transferiam a doença para ele, por meio de encantações. Vale lembrar que também Jesus usou essa forma de cura, ordenando que demônios saíssem de um homem e entrassem numa manada de porcos.
No conceito de alguns povos, a palavra falada era tão poderosa que se acreditava que uma praga proferida verbalmente se consolidava em matéria física e não poderia ser destruída até o desejo em questão ser concretizado. Todavia, depois que isso acontecesse, a praga poderia ser contrabalançada por palavras boas, e até por um pensamento forte.
Os hebreu, os cananeus e alguns povos semitas acreditavam que , quando pronunciada em voz alta, a praga tinha poderes ideênticos aos de certas fórmulas mágicas, que expressas verbalmente, liberavam forças sobrenaturais. Na opinião desses povos, tantos as pragas como as bençãos eram indestrutíveis. Na própria Bíblia existe a confirmação dessa crença. Segundo o livro, Isaac deveria ter abençoado Esaí, mas por engano abençoou seu segundo filho Jacó, e não pode desfazer aquele ato nem impedir que os benefícios da benção recaíssem sobre ele.
COMUNICAÇÃO COM O ESPÍRITO
Há um conhecimento xamânico de que, não há espaço vazio dentro ou ao redor de nós. Existe uma substância própria que movimenta-se e muda, e, pode ocupar um lugar e comunicar-se.
Há a linguagem da comunicação com o Espírito e com a essência espiritual de outras formas de energia. Continuando nosso estudo da palavra no xamanismo, Tom Cowan em seu livro : "Shamanism - As a Spiritual Practice for Daily Life" , diz que não começamos a vida com toda a linguagem. Palavras e seus significados, estruturas de sentenças, as sutilezas das frases, todos chegam devagarinho através dos anos, de muita prática, e com uma boa parte de frustração.
Dando nome às coisas, como gatos, coelhos, nos colocamos separados, de alguma forma, de algo do universo. Nossos primeiras tentativas de atrair poder era usando as palavras de um modo mágico. Expressamos rápidamente sílabas sem sentido para expressar algum sentimento na presença de objetos, pessoas e experiências. Nós podemos também inventar nomes para coisas, antes de sabermos qual é o seu nome real.
Povos Tribais, especialmente xamãs, têm formas pessoais e similares de usar a linguagem. Os xamãs entendem a linguagem dos animais e dos pássaros, comunicam-se com árvores, rios e montanhas, e retornam de sua jornada para o "Espírito do Mundo" com novas canções de poder. Como crianças cantam versos, práticas xamânicas incluem "cantar palavras", frases ou simples vocábulos para acessar um estado não ordinário de consciência.Igualmente é importante para o xamã a habilidade para aquietar e observar a natureza e os espíritos sem a interferência da linguagem, que poderá nos trazer uma experiência artificial.
Orpingarlik, um xamã esquimó, conta a canalização da canção:
"Nossos pensamentos são dirigidos por uma força como uma enchente ou como um calor que nos evita e buscar novas formas para expressar a nós mesmos. Mas depois que isso passara poderá ocorrer.
Nos sentimos pequenos, e ainda menores e ficamos com medo de usar palavras, porque acontece que ela chega de nós mesmos. Quando as palavras soltam fora de nós mesmos - Nós temos uma canção ".
Lame Deer disse que seu povo busca símbolos e imagens por ser uma ponte do espiritual com o lugar comum, diferente dos povos do oeste onde "símbolos eram apenas palavras". Ele explicou :
" Para nós são parte da natureza, parte de nós mesmos - a Terra, o Sol, o vento e a chuva, pedras, arvores, animais, cada pequeno inseto como formigas e gafanhotos. Nós tentamos entender, não com a cabeça, mas com o coração."
METAFÍSICA DA FALA
Meu querido irmão espiritual, o jornalista Romeu Graciano, que me levou para conhecer o Santo Daime, quando era da Planeta escreveu uma matéria interessante sobre a Força Criadora da Palavra - A Metafísica da Fala. Transcrevo abaixo :Os dons da linguagem e da voz são desperdiçados em nossa cultura, incapaz de compreender a refinada arte da conversação. A fala não só é a expressão do pensamento, como também manifesta no mundo da matéria a realidade criada pela mente humana.
A situação relatada a seguir aconteceu num grupo de sustentação espiritual da Cidade de São Paulo :
" Estou no fundo do poço", resumiu uma das participantes para descrever como estava se sentindo e justificar a sua dificuldade para colocar em prática alguns dos ensinamentos recebidos.
" Você não está no fundo do poço, está no fundo de um útero que irá fazer você renascer", corrigiu um dos orientadores, mostrando a vantagem de empregar palavras construtivas quando vamos expressar sentimentos indesejáveis.
Sem perceber, nós influenciamos as circunstâncias da nossa vida através das palavras. Os chavões negativos presentes em nossa linguagem demonstram parte do condicionamento mental a que estamos submetidos, que transforma tanta gente em vítimas inconscientes de sí mesmas, ás vezes paralisadas na escuridão do "fundo do poço" ou encurraladas num "beco sem saída".
Nossas faculdades de verbalização desconhecem a natureza mágica das palavras e seus efeitos nas esferas sutís da existência. Se assim não fosse, possivelmente o ser humano daria muito mais valor ao silêncio, seria mais econômico em sua fala e refletiria antes de dizer algo.
Lamentavelmente, a conversação costuma ser um amontoado de pensamentos e sentimentos pouco edificantes, serve de compensação das ansiedades e desequilíbrios da maioria das pessoas. Quanto menor for o controle dos órgãos dos sentidos, mais dificuldade se tem paara dominar a língua. Por isso se diz tanta inutilidade, se lança, inconsequentemente, uma quantidade absurda de palavras nocivas no ambiente que compartilhamos com os outros. Tal forma de poluição deveria ser mais notada e prevenida.
"Não sabeis que o que entra pela boca desce ao estômago e é jogado no esgoto ? Mas o que sai da boca provém do coração e isso torna impuro o homem. Porque do coração provém os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, a prostituição, os roubos, os falsos testemunhos, as blasfêmias. É isso o que torna o homem impuro. Mas comer sem lavar as mãos, isso não torna o homem impuro" (Mateus,15), disse Jesus para explicar a razão do cuidado que se deve ter com o que "sai da boca".
A palavra falada é a exteriorização audível do pensamento. Enquanto som propagado através do ar, a palavra produz vibrações e ressonâncias em nós próprios (internas e externas) e no meio ambiente, o que evidencia algo do seu poder de agir na realidade concreta. Em termos psicológicos, seus múltiplos efeitos podem ser observados pelas impressões mentais e emocionais causadas naqueles que a recebem.
As imagens e sensações associadas ao "fundo do poço", por exemplo, são diametralmente opostas às condições de quem se visualiza dentro de um útero acolhedor, aguardando o momento de seguir confiante para a vida.
Dependendo da frequência e intensidade com que são repetidas, as palavras estbelecem atitudes boas ou más em nosso comportamento.
Sem a determinação da vontade para controlar a negatividade que, muitas vezes, acompanha o discurso, o indivíduo fortalece no subconsciente padrões de comportamento de igual natureza. é o que acontece com pessoas habituadas a se julgarem "incapazes", "sem sorte", num conformismo que dá continuidade a essses estados.
O uso de palavras mágicas, de fórmulas tipo abracadabra, subentende um conhecimento fundamental na força do verbo (Logos) criador, que, segundo a crença, organizou e deu forma à matéria dispersa antes do surgimento do Universo.
A teoria do Big Bang, a explosão primordial ocorrida há cerca de 15 bilhões de anos, seria a versão científica do fabuloso acontecimento sonoro, que a traadição religiosa ocidental associou como o Verbo Divino.
Não é preciso dominar fórmulas mágicas para entender que a fala transpõe para o mundo material as energias sutís trabalhadas pela mente humana. como a energia segue o pensamento, ao verbalizá-lo mobilizamos essa energia para se manifestar. A eficácia desse processo dependerá da nossa concentração num determinado pensamento, que deverá estar apoiado na intensidade da fala e do sentimento. Isso responde o porquê de as pessoas geralmente criarem situações de tanto se preocupar e falar a respeito.
É o caso da esposa cismada com a infidelidade do marido, e que um dia descobre a existência de outra mulher, confirmando suas antigas suspeitas. O ciúme doentio tem alta capacidade de estimular a imaginação.
E, se não estamos em paz com nossos pensamentos, fatalmente falamos muito mais do que deveríamos. Pessoas que usam supostas estórias de acusações contra seus parceiros estão, na verdade, plantando provavelmente situações futuras. Como se plasmassem, com a linguagem e seus pensamentos, a realidade que não desejam ver acontecer.
A metafísica da linguagem é um campo vasto e pouco explorado. Exemplo: você pode ajudar uma pessoa sem confiança nas suas capacidades conversando com ela, falando-lhe com firmeza, convicção e sentimento dos seus potenciais adormecidos. Usando o poder da palavra para lhe avivar as qualidades que ela não consegue reconhecer. Não é forçar elogios. Seja sincero e intuitivo, use a empatia para explorar pontos importantes do eu interior dela. Mesmo que ela não acredite no que estiver ouvindo, a força contidanas suas palavras deixará algum registro desse momento a ser resgatado.
Se estamos conscientes da presença invisível de outras inteligências, é bom saber que, ao lançarmos uma idéia no ar, podemos atrair habitantes do outro plano interessados na realização do que foi dito sem objetivo aparente, só par "jogar conversa fora". Já que não só as paredes tem ouvidos, é aconselhavel avaliar bem tudo aquilo que se diz, levando em conta que o mal produzido pelas palavras se propaga muito além do alcance da nossa ação para remediá-lo.
Havia um homem que procurou Maomé para resolver um sério problema : " Sinto-me muito infeliz por ter agido mal com um dos meus amigos. Acusei-o injustamente, caluniei-o e agora não sei como reparar o mal que fiz. O que me aconselhas ? " Maomé então lhe disse: " Eis o que deves fazer: vai pôr uma pena em frente de cada casa da cidade e amanhã vem falar comigo outra vez." Após cumprir a orientação recebida, no dia seguinte o homem lhe fez noca visita. "Fizeste bem. Agora vai buscar as penas e traga-as aqui", disse o profeta. As horas passaram e lá estava o homem de volta : " Não encontrei uma única pena !", ele logo foi dizendo. E Maomé replicou: " O mesmo se passa com as palavras : uma vez proferidas, não podes voltar a apanhá-las, elas voaram."
Aqueles que fizeram da maledicência um habito socialmente aceito, deveriam considerar com atenção o vinculo da fala com a lei das manifestações, algo que os antigos magos praticavam. Sabendo que o fluxo de pensamentos e emoções circula entre as pessoas no tempo e no espaço por meio do campo da energia humana. Os pensamentos e as palavras afetam em conjunto os padrões energéticos da nossa aura, gerando formas-pensamento que nos influenciam em todos os níveis, além de atrairem material astral que vibra na mesma sintonia. pois pensamentos e palavras são vibrações atuando de acordo com a lei das correspondências, que nos revela que tudo vibra e pulsa no universo. Pois ritmo também é vida.
O canto devocional é uma das maneiras nobres de usufruir dessa lei. O som de palavras divinas - como Amém ou Om (mantra) - faz vibrar nosso corpo e consciência numa sintonia elevada, colocandoo-nos em ressonância com a realidade de Deus. Pelo mesmo processo, a linguagem grosseira cria uma atmosfera desagradável, agrega material astral afinada com ela.
O ser humano apresenta diferentes níveis de tolerância à fala pessimista, excessivamente crítica e julgadora. Pessoas cuja negatividade já está incorporada à sua personalidade, nem precisam abrir a boca para sentirmos o desconforto causado por suas vibrações.A energia do pensamento é ainda mais sutíl e rápida nos seus efeitos.
Para nós, representa uma chance de evitar maiores estragos causados pelas palavras. porque pelo pensamento formulado no coração, sede de nossa mente superior, pode-se interceder junto aos nossos espíritos aliados e solicitar a reparação da palavra venenosa dirigida ao outro. E a reconciliação direta, franca e sentida conclui esse processo com fecho de ouro.
Porque certas pessoas nos tocam profundamente com sua fala e outras passam indiferentes com seu discurso? Há muitos aspectos que contam numa análise desse tipo, inclusive as particularidades da voz de cada pessoa e a sua força espiritual. Contudo, a maneira como nos sentimos quando falamos e a intenção que nos move a emitir a palavra são pontos primordiais para se obter resultados satisfatórios.
Tomemos uma regra simples; a fim de evitar a conversação inútil, deve-se aprender como falar, o que falar e quando falar; e logicamente saber ouvir as pessoas.
O budismo identifica quatro formas destrutivas de ação da palavra :
- Primeira : mentir ou enganar os outros.
- Segunda : usar linguagem desagregadora, causando a discórdia entre as pessoas.
- Terceira : usar linguagem abusiva e áspera com os outros, como insultar, gritar.
- Quarta : praticar conversas sem sentido, falando coisas desnecessárias, sem consciência.
A FALA SAGRADA
Pierre Clastres, foi o antropólogo que escreveu o livro " A Fala Sagrada " , Mitos e Cantos Sagrados dos Índios Guaranís - Ed. Papirus . Ele diz que os índios guaranís denominam as palavras que lhes servem para se dirigir a seus deuses de "Belas Palavras".Bela Linguagem, Fala Sagrada é agradável aos ouividosdos divinos, que as consideram dignas de sí. Rigor de sua beleza na boca dos sacerdotes inspirados que as pronunciam; embriaguez de sua grandeza no coração de homens e das mulheres que os escutam.
Essas ñe´ë porä, essas Belas Palavras, ecoam ainda nos lugares mais secretos da floresta que, desde sempre a, abriga aqueles que, autonomeando-se, Ava, os Homens, se afirmam assim depositários absolutos do humano. Homens verdadeiros portanto, e axacerbados por um orgulho heróico, eleitos dos deuses, marcados pelo sinal do divino, esses que se dizem igualmente os Jeguakava, os Adornados.
As plumas das coroas que ornam suas cabeças murmuram ao ritmo da dança celebrada em homenagem aos deuses. A coroa reproduz a chamejante cabeleira do grande deus Ñamandu.
O desejo de eternizar o povo, procurou seu encaminhamento no aprofundamento da Palavra. O desejo guaraní de transcender a condição humana ultrapassou por sua vez a história, e conservando intacta sua força através do tempo, investiu totalmente no esforço do pensamento e de sua expressão falada.
Linguagem de um desejo de supra-humanidade, desejo de uma linguagem próxima da dos deuses : os sábios guaranís souberam inventar o esplendor solar das palavras dignas de serem dirigidas somente aos divinos.
Sabe-se que quas todos os guaranís conhecem e sabem contar os mitos da tribo. Mas só uma minoria de homens sabe falar com os deuses e receber suas mensagens : os sábios são os senhores exclusivos das Belas Palavras, detentores respeitados do arandu porä, o belo saber.
Uma embriaguez verbal toma conta do orador, de quem se pode dizer então que, literalmente, não é ele quem fala mas, através dele, os deuses.
Linguagem da qual nos comprazemos em imaginar o eco longínquo do discurso dos antigos profetas, sobre quem os índios diziam que eram ñe´ë jara, os mestres das palavras. Segue abaixo um trecho traduzido :
Ele ergueu-se :de seu saber divino das coisas,
saber que desdobra as coisas,
o fundamento da Palavra, ele o sabe por sí mesmo.
De seu saber divino das coisas,
saber que desdobra as coisas,
o fundamento da Palavra,
ele o desdobra desdobrando-se,
ele faz disso sua própria divindade
Ñamandu, pai verdadeiro primeiro
Conhecido o fundamento da Palavra futura,
em seu divino saber das coisas,
saber que desdobra as coisas,
ele sabe então por sí mesmo
a fonte do que está destinado a reunir
A terra não existe ainda,
reina a noite originária,
não há saber das coisas;
do saber que desdobra as coisas,
ela sabe então por sí mesmo
a fonte do qual está destinado a reunir.